Cássio diz que via do impeachment volta ganhar força

Em entrevista à rádio Jornal do Comércio, de Recife, neste sábado (5), o senador paraibano Cássio Cunha Lima, líder do PSDB no Senado, declarou que “é preciso reconhecer que a via do impeachment ganhou força esta semana”, mas que a ação no âmbito do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que pede a cassação da chapa Dilma\Temer; também é um fator a ser levado em consideração por conta, de acordo com ele, “dos indícios de um suposto desvio de dinheiro da Petrobras ter parado na campanha da atual presidente”.

Quando instada sobre uma possível renúncia da presidente Dilma em função dos últimos episódios, o tucano destacou: “É um ato unilateral de vontade. É claro que você pode criar circunstâncias que se faça pressão determinada para uma tomada de decisão”. No entanto, de acordo com Cássio, “é um caminho que caberia um gesto de desprendimento, de grandeza e de espírito público que possa ter a presidente Dilma”.

Cássio volta a priorizar a hipótese de cassação da chapa Dilma\Temer no processo que corre no TSE. Algo que levaria à convocação de novas eleições presidenciais em 90 dias, conforme a Constituição. No entanto, defende a tese que “antes de tudo, precisa-se forçar a saída de Eduardo Cunha da presidência de Eduardo Cunha” do comando da Câmara Federal.

Vai abaixo a transcrição da conversa do senador Cássio Cunha Lima com à rádio Jornal do Comércio.

Senador, o presidente do seu partido Aécio Neves defende o afastamento da presidente Dilma. A oposição defende o caminho do impeachment, da renúncia ou vai aguardar a ação no Tribunal Superior Eleitoral?

– Em relação a renuncia, é sempre um ato unilateral de vontade. É claro que você pode criar circunstância que se faça pressão determinada para uma tomada de decisão, mas é um caminho que caberia  um gesto de desprendimento, de grandeza, de espírito público que possa ter a presidente Dilma a partir de que ela entenda, definitivamente, que essa grave crise do Brasil tem nome e endereço: Dilma Rousseff, do PT; Palácio do Planalto. O Brasil está vendo sua economia se desestruturar por completo. É um quadro muito grave de desemprego, aumento da inflação, as pessoas estão vivendo pior. Não há qualquer perspectiva de saída da crise nesses próximos anos, porque falta ao governo da presidente Dilma um elemento essencial de credibilidade e confiança e o Brasil está pagando um preço muito caro por isso, principalmente os mais pobres, os que mais precisam, que além de estarem desempregado, ou ameaçado de desemprego, não tem prestação de serviço no mínimo de qualidade, os hospitais lotados, atendimento precário, ameaça constante de epidemia de dengue, de zika, de Chikungunya. A situação do país é muito grave e não se tem um governo com capacidade de reagir para tirar o país dessa situação. Então, vamos insistir no impeachment sim. Esse é o caminho que vamos trilhar com mais força, inclusive obstruindo as votações na Câmara Federal a partir desta semana, até que o processo seja definitivamente instaurado sem abandonar, claro, a ação na Justiça Eleitoral, que pode ser a melhor solução para o Brasil, desde que a lei eleitoral seja cumprida e respeitada. Não há outra decisão a ser tomada pelo TSE se não a cassação da chapa da presidente Dilma e o vice Michel. Com isso, teríamos em 90 dias novas eleições e, através das eleições, você devolve a sociedade, o eleitor, a eleitora, ao povo o poder de decisão dos rumos do Brasil. Você respeita a Constituição, que assegura que ‘todo poder emana do povo’. Mas que para isso tem uma etapa primeira a ser cumprida, que é o afastamento do presidente Eduardo Cunha, de forma imediata, porque para que se tenha nova eleição o presidente da Câmara tem que assumir por pelo menos 90 dias a presidência da República e, é claro, que Eduardo Cunha não pode assumir nem por 9 segundos imagina por 90 dias. Então, basicamente são esses dois caminhos: do impeachment ou da Justiça Eleitoral, que vão andar paralelamente uma ao outro. Mas acredito que o impeachment tem mais chances de avançar com maior rapidez.

A estratégia pelo impeachment precisaria contar com o apoio do PMDB, se associando a oposição?

– Inevitavelmente, a posição do PMDB é decisiva. Sem ele não se pode avançar com esse processo. O PMDB terá até o final desta semana a reeleição de sua direção, de sua presidência. Acho que até lá o partido ficará em compasso de espera. Após a renovação da direção nacional acredito que poderemos ter conversas mais avançadas neste sentido para tentar convencer o partido e seus representantes no Congresso da importância deste gesto em defesa do Brasil. O que estamos buscando é salvar o Brasil de uma catástrofe econômica ainda maior da que estamos vivendo. Não se trata aqui de estar tirando presidente A ou B. Se trata de respeitar a Constituição, de cumprir a lei e de encontrar uma saída para o país. O Brasil caminha para o abismo econômico, que será muito caro para as futuras gerações. Levaremos, talvez, uma década para sair dessa situação gravíssima que empurraram o nosso país. A crise exige respostas rápidas, ações ágeis para que tenhamos uma luz neste fim do túnel, como se diz o ditado popular; encontrando uma saída dentro da Constituição, da base legal para essa crise gravíssima que o pais vive.

Agora, senador pela salvação do Brasil a oposição teria condição de abaixar as armas. Tem condições neste sentido ou isso é impossível?

– Tem um gesto simbólico que eu considero bastante representativo praticado pelo senador Aécio tão logo terminou as eleições de 2014. Ele ligou para a presidente Dilma cumprimentando-a pela vitória e naturalmente fazendo um gesto, que nunca teve correspondência por parte do governo e muito menos pela presidente Dilma. Quem mais quis dividir o país entre nós e eles sempre foi o PT. Agora que eles estão com  o país nesta situação, sem ter a mínima humildade de reconhecer, pelo menos os erros graves que foram praticados e esse seria o primeiro gesto, ter humildade e pedir desculpas ao povo brasileiro. Além disso apresentar uma agenda concreta, uma pauta que pudesse apontar para a saída para a crise. Nada disso foi feito. O governo quebrou o Brasil, entende que para salvar o próprio governo tem que cobrar mais impostos e a sociedade, as pessoas, o trabalhador brasileiro, o empreendedor, o comerciante, o empresário de forma gera, não aguentam pagar mais impostos. Hoje, você trabalha em media quatro meses durante o ano só para pagar imposto. Permitimos que a política que está sendo defendida pelo governo da presidente Dilma de aumentar imposto prospere o brasileiro vai trabalhar cinco ou seis meses do ano só para pagar impostos ao governo e que governo é esse? É um governo que presta péssimo serviço, que não tem planejamento, que gasta de forma desmedida, de maneira descontrolada, um governo atolado em denúncias de corrupção e o que eu percebo é que a maioria dos brasileiros não está disposto a dar mais dinheiro a um governo que não toma uma atitude sequer para controlar seus gastos, para gastar de forma mais eficiente, planejando os investimentos que possam ser prioritários. Então,  não é justo colocar essa conta nas costas do trabalhador e do nosso povo com a volta, por exemplo, da CPMF. A pauta única de alternativa que o governo apresenta de saída para a crise é aumento de impostos. E essa pauta que o PSDB não aceita. Nós não votaremos a favor de forma nenhuma a volta da CPMF.

O senhor perdeu o mandato, teve mandato cassado, tem experiência neste aspecto. É coisa do outro mundo?

– Eu quero aproveitar a pergunta para esclarecer que não fui cassado por corrupção, nem por improbidade ou malversação do dinheiro público. Para quem não sabe a Justiça Eleitoral cassou o meu mandato de governador por ter entendido de forma equivocada, ao meu ver, que um programa social que nós realizamos na Paraíba, muito semelhante ao Bolsa Família, teria interferido no resultado das eleições. Nós tínhamos um programa social de atendimento as pessoas que mais precisam e a Justiça Eleitoral entendeu que aquele programa tinha interferido no resultado da eleição . Essa foi a razão de minha cassação e volto a dizer que foi uma decisão equivocada,  mas que eu aceitei de forma resignada por mais justa que fosse a minha indignação eu não me confrontei com a justiça, eu não quis desmerecer as instituições, eu não quis desqualificar a decisão, mesmo não me conformando com ela. Então, quando você tem o espírito democrático, quando você tem uma formação ética, uma consciência limpa, por mais injusta que seja uma decisão, você submete a ela, tira lições pessoais. Sofre, claro. Tem dor. A família sofre junto, os amigos, mas me faz mais forte para compreender os valores e os princípios que são maiores do que qualquer dramas pessoal da própria democracia. Então, nós não podemos colocar os nossos dramas pessoais acima dos interesse coletivos, acima dos princípios fundamentais de uma república ou de uma sociedade democrática. Foi assim que reagi e é assim que tenho me comportado ao longo de minha trajetória como homem público e fazendo agora o meu papel de líder do PSDB no Senado, fazendo oposição firme. Posso dizer destemida, corajosa, altiva, momento que o Brasil precisa de uma postura como essa.