Por Marcos Souto Maior: Um cara igual a outro qualquer…

A gente avança no tempo, deixando atrás um rastro de saudades que oscila entre a alegria de viver e o amor com a tristeza da ausência!
Perdi pessoas que me deixaram um rasgo de impotência por não conseguir superar enfermidades que não se dobraram às curas. A cada lembrança meu coração aumenta as batidas e fecho os olhos para melhor ver os que não estão mais conosco.
As lágrimas sempre escorrem pelo meu rosto, lavando a poeira da vida, quando não encontro quem eu desejaria rever… Mesmo assim, nunca quis deixar de recordar, ainda que ao alto preço da depressão oportunista, até porque, é com coragem destemida que chegamos ao sonho da mais pura saudade.
O moinho do tempo, aparentemente devagar, não falha na contagem regressiva de todos nós. Parece fazer pouco tempo que era uma criança de calças curtas, passando pela juventude agitada dos anos da jovem guarda e da vida universitária, após o que conquistei o desejado diploma de bacharel em Direito, e armei a primeira banca de advogados. Chegaram, enfim, os dois casamentos, filhos e, bem depois, os netinhos para perpetuar o sobrenome.
E, assim, vem o lado alegre da nossa passagem temporal, onde me levanto de corpo inteiro e me pergunto: quem sou eu?
Titubeio em retorquir, com assumido medo de ultrapassar aos limites do ser e tornar-me ridículo a mim mesmo. A mente decide começar a entrega dos fatos que marcam o cotidiano. Não me contive e encarei o espelho que ajuda a escovar os dentes, fazer a barba e ajeitar os cabelos que, ainda, me mostra um rosto com algumas rugas, cabelos esbranquiçados, olhos apertados e ligeiro traço de alegria retratado pelos lábios! Com os sentidos e membros do corpo funcionando satisfatoriamente caminho em qualquer sentido, sem medo de ser feliz.
Sou um chefe de família que ama todos os seus integrantes, me tornando um leão raivoso, quando qualquer um deles é vítima de preconceito ou provocação. O que der para qualquer familiar, cabe em mim a imediata responsabilidade.
Confesso falhas na minha maneira da educação familiar, matéria que muitos escrevem e bem poucos praticam. Servi a todos os meus o modesto exemplo do que sou na esperança de que fizessem melhor do que pude fazer. Os beijos entre familiares são sempre doces, fieis e duradouros!
Sem arrependimento, tenho plena consciência e determinação do que fiz e do que faço, mantendo equilibrado orgulho pelos momentos de glória, na consumação de todos os planos arquitetados, na confiança nos desígnios de Deus.
Sendo amigo verdadeiro, procurei ser um cara sem ter defeitos, convivendo numa seleção harmônica e recíproca onde ninguém deve levar vantagem. Os ‘amigos do poder’, que eventualmente exploraram impiedosamente, merecem desprezo.
Posso e devo sorrir à vontade porque meu Deus me fez um cara feliz na companhia dos que me seguem na marcha da vida, com o amanhã aberto pelo sol do saber e do vigor, preparando no dia a fio, para o banquete final da lua e de suas estrelas.
Finalmente, eu não sou o cara, sou apenas um cara feliz qualquer!
(*) Advogado e desembargador aposentado

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